Delegada Taís Aires fez desabafo nas redes sociais (Foto: Igor Jácome/G1) |
A DELEGADA TAÍS AIRES É RESPONSÁVEL POR TRÊS
CIDADES DO INTERIOR DO ESTADO.
FALTA DE PESSOAL E ESTRUTURA, COMO VIATURAS, SÃO PROBLEMAS APONTADOS.
IGOR JÁCOME DO G1 RN
“Quando os agentes saem para fazer uma intimação, tranco o
cadeado da delegacia”. A revelação é parte do desabafo feito pela delegada Taís
Aires Telino. Atuando há um ano como titular da Delegacia de Polícia de Santana
do Matos, na região Central, ela é responsável por mais dois municípios e conta
com uma equipe formada por três agentes e nenhum escrivão. “Nunca tive um”,
acrescenta. Taís publicou sua denúncia em uma rede social. Nesta sexta-feira
(2), ela concedeu entrevista ao G1 na sede da Associação de Delegados da
Polícia Civil (Adepol). "Muitas investigações param por falta de
estrutura", disse ela. “Já pensei em desistir, mas amo o que faço. Não sou
mulher de pular do barco”, emendou.
Segundo a delegada, os principais problemas enfrentados por ela
são a falta de estrutura e de pessoal. “E o meu caso não é o mais grave. Há
cidades onde só há um delegado e um agente”, afirma.
Por meio da assessoria de imprensa, a Secretaria Estadual da Segurança
Pública e da Defesa Social (Sesed) disse reconhecer os problemas enfrentados
pela Polícia Civil em todo o estado, mas não tem condições de resolver a
situação devido à Lei de Limite Prudencial. A Sesed ainda diz que os problemas
apresentados são antigos e já passaram por outras gestões.
Atualmente, de acordo com a assessoria, delegados e agentes
aprovados no último concurso, como é o caso da própria Taís, só são nomeados
para preencher vagas abertas com saída de outros policiais. Apesar de afirmar que
deseja aumentar o efetivo, a Secretaria declarou que não pode ultrapassar o
limite prudencial estabelecido.
Dificuldades
Sediada em Santana dos Matos, a delegada também atende às demandas
dos municípios deSão Rafael e Bodó. A delegacia conta apenas com um
carro de polícia caracterizado. “Nós não temos um carro descaracterizado para
manter campana (vigília). Já tive que usar meu próprio carro para monitorar uma
quadrilha de assalto a bancos”, revela.
A delegacia funciona em um prédio alugado e cedido pelo município.
A limpeza e a reforma do prédio também estão a cargo da administração
municipal. “No dia em que a prefeitura pedir o prédio, ficaremos sem teto”,
acrescenta.
“O ar condicionado foi instalado pela prefeitura, os móveis foram
doados por um banco; o computador, pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE/RN)”,
ainda afirma. “Não temos sequer fax. Isso atrapalha a comunicação com outras
delegacias”. De acordo com ela, os agentes precisam escanear documentos para
mandar por e-mail ou ir a uma farmácia para poder mandar o fax. "Muitas
investigações param por falta de estrutura", conta.
Quando à falta de pessoal, ela reclama que há apenas três agentes
na delegacia, para atuar nos três municípios. "Nunca tive um escrivão. Ele
é parte fundamental em uma delegacia", argumenta. Em alguns meses do ano,
a delegacia chega a ter apenas dois agentes. "É regra da polícia que
nenhum agente pode sair para uma intimação, por exemplo, só". Quando meus
agentes saem tranco o cadeado da delegacia", admite.
“Já pensei em desistir”
A bacharel conta que já pensou em desistir da profissão. Mesmo com
o incentivo de outras pessoas para sair, ela escolheu permanecer na carreira.
“Já pensei em sair, já passei em outro concurso, mas amo a carreira de polícia.
Amo o que o que faço. Não sou mulher de pular do barco”, coloca.
De acordo com a Associação dos Delegados de Polícia do Rio Grande do Norte (Adepol), o estado tem cinco mil vagas
abertas por lei. No entanto, pouco mais de 1.700 policiais estão atuando no RN.
A presidente da categoria, Ana Cláudia Saraiva Gomes, declara que a situação
enfrentada por Taís é a mesma de outros delegados no interior do estado.
“Estamos na iminência de um colapso na segurança por falta de
estrutura e condições de trabalho”, disse ao G1.
“Apesar disso tudo, estamos trabalhando, pois somos aguerridos e temos respeito
pela população. Fazemos nossa parte e clamamos que o Governo faça a dele”,
concluiu.
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