quarta-feira, 19 de março de 2014

DELEGACIA DE HOMICÍDIOS ACUMULA 200 INQUÉRITOS SEM ELUCIDAÇÃO

Roberto Lucena
repórter

A Delegacia Especializada em Homicídios (Dehom) de Natal acumula 200 inquéritos instaurados pelos quatro delegados que trabalham à frente da unidade. Os crimes seguem sem elucidação devido à  falta de efetivo e estrutura necessária para dar andamento às investigações. Na tentativa de solucionar o problema, policiais da especializada querem mudar o perfil da delegacia para deixar de apenas receber demanda de outras unidades e passar a realizar investigações a partir do registro do homicídio. A ideia,  abortada pelo Governo do Estado em setembro do ano passado, voltou a ser ventilada com a não efetivação da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). 

Na prática, com exceção dos inquéritos especiais designados pela Delegacia Geral de Polícia Civil (Degepol), a Dehom praticamente refaz o trabalho realizado pelas delegacias distritais existentes na capital e delegacias de outros municípios. Apesar de estar na capital do Estado, a especializada é acionada para investigar homicídios registrados em quase todas as regiões do Rio Grande do Norte. Além da Dehom Natal, o Estado conta com uma Dehom em Mossoró.

O fluxo de novos inquéritos é determinado conforme o trabalho nas distritais. Se o inquérito que apura um caso de homicídio não caminha satisfatoriamente em determinada delegacia, o Ministério Público do Estado (MPE) solicita o encaminhado para a Dehom. O mesmo pedido pode ser feito pelo titular da delegacia e todos os casos  precisam da aprovação da Delegacia de Polícia da Grande Natal (DPGran). Há casos que, antes de chegar à especializada, o inquérito passa por mais de uma delegacia.

Mas remeter o caso para a Dehom nem sempre é sinônimo de que o caso será resolvido. Apesar de se dedicar à elucidação de apenas um tipo de crime, os delegados e agentes da unidade sofrem com a falta de estrutura e pessoal comum aos distritos policiais do Estado. “É impossível investigar todos os crimes”, confirmou uma fonte ouvida pela TRIBUNA DO NORTE que preferiu manter sigilo de identidade. “Já chegamos a trabalhar sem papel e tinta para impressora. O Governo não fez o repasse corretamente. Falta efetivo e estrutura. Temos problemas com os laudos do Itep também. Por isso tudo, estamos com esse acúmulo de trabalho”, explicou.

A mesma fonte informou ainda que é desejo dos policiais civis a ampliação de atividade da unidade especializada. Ao invés de apenas receber demanda das delegacias distritais ou apurar casos designados pela Degepol, a Dehom abriria inquéritos próprios começando a apuração no local do crime. “Para isso, é preciso um Decreto do Governo e, logicamente, o aumento de efetivo”, disse. 

O assunto já foi discutido em setembro de 2012, quando foi criado a Dehom de Mossoró. Naquela ocasião, a administração estadual abortou a ideia. Agora, com a discussão em torno da criação da DHPP, o assunto ressurgiu. O titular da Degepol, Ricardo Sérgio, demonstrou que não é a favor da mudança. “A questão não é ampliar a competência. Ampliar a competência e dar impressão de que vai resolver o problema, não adianta. A gente precisa de pessoal. A questão é essa”, colocou.

Segundo o policial ouvido pela reportagem, independente da solução viabilizada pela administração estadual, há omissão da administração. “E omissão, em segurança pública, resulta em caixão”, pontuou.

CENÁRIO
A Delegacia Especializada em Homicídios foi criada através de Decreto em 1992, mas passou a funcionar efetivamente quatro anos depois.

Estrutura e efetivo Dehom

Números
200 inquéritos existentes na unidade; 
4 delegados e 14 agentes trabalham no local.

Divisão de Homicídios

Efetivo
80 policiais
18 delegados
17 escrivães
45 agentes

Impacto financeiro
R$ 220 mil por ano com o pagamento de gratificações.

Fonte: Degepol

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