segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

PRESOS ABREM TÚNEIS DESDE 2001

Abertura principal do túnel foi fechada com metralha e cimento

Aura Mazda, Ricardo Araújo, Hudson Helder e Júlio Pinheiro
Repórteres, Chefe de Reportagem e Editor do TN Online

Ao longo de 13 anos, um complexo de túneis levou mais de uma centena de presos que cumpriam pena na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta, à liberdade ilegal. Uma caverna descoberta no início da semana passada pela direção da casa carcerária não é uma rota nova para fugas, mas a ampliação de uma estrutura cuja montagem diária pelos apenados remonta  mais de uma década.  
O primeiro túnel que se tem notícia foi descoberto no Pavilhão 1 de Alcaçuz em 2001, três anos depois de sua inauguração. Desde então, uma complexa teia de galerias clandestinas se formou embaixo daquele e dos pavilhões sem que nenhuma atitude enérgica quanto ao correto fechamento das estruturas fosse tomada por antigos e atuais secretários de Segurança Pública ou chefes do Executivo Estadual. 

Desocupados dia e noite, pois pouco do que se pensou para a ocupação dos presos se concretizou, um trabalho paciente consumiu o esforço de aproximadamente 250 homens que cumpriram  ou cumprem pena em uma das 36 celas do Pavilhão 1. Mesmo aqueles que não pretendiam fugir eram obrigados a escavar sob ameaça de morte. Os túneis se formaram, uniram celas e permitiram aos detentos uma livre e tranquila circulação clandestina pelas alas do Pavilhão referido. 

A areia extraída do solo, cujo quantitativo exato não foi mensurado, era escondida no teto das alas, nos baldes de lixo, na tubulação da rede sanitária de esgoto e serve de pilar, através do “empacotamento” em camisetas, lençóis e sacos plásticos, das próprias escavações. 

“A gente sabia que existia um túnel e decidimos cavar no local. Achamos a caverna. Aquilo já fazia alguns anos que era construída”, afirmou o diretor de Alcaçuz, Ivo Freire. Para executar a operação, os presos utilizam desde colheres de alumínio às pás dos ventiladores levados pelas famílias para amenizar o calor nas celas. Através de buracos feitos nos pisos, o trabalho é iniciado e consome dias e noites dos apenados. 



Em  sua concepção inicial, Alcaçuz teria o piso reforçado, o que impediria a construção de túneis. O projeto original, porém, foi abandonado e o que seria uma carceragem de segurança máxima apresentou falhas em pouco tempo de uso. “Todo o projeto foi seguido. Nós entregamos o que estava no projeto”, asseverou o engenheiro Omar Romero Medeiros Dias, um  dos representantes da Construtora A.  Gaspar, executora da obra. Erguido em terreno dunar, o projeto arquitetônico da penitenciária indicava paredes e solo com 15 centímetros de espessura, reforçados por concreto armado com ferro, além de vigilância eletrônica ininterrupta.

Nos quatro pavilhões principais da penitenciária, onde estão divididos 981 homens atualmente,  existem estruturas de túneis subterrâneos. Somente no Pavilhão 4, entre janeiro e dezembro de 2010, por exemplo, vinte e cinco presos fugiram utilizando a mesma estrutura de túneis. A atitude de mais de uma dezena de diretores que passaram por Alcaçuz em 16 anos de fundação foi basicamente a mesma: fechar a  entrada principal e se preparar para a próxima tentativa de fuga. A Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania (Sejuc), no mesmo intervalo de tempo, assegurou não dispor de recursos para fechar as estruturas corretamente.

A TRIBUNA DO NORTE entrou em contato com sete ex-diretores da Penitenciária, mas nenhum deles snem e dispôs a falar sobre Alcaçuz e as tentativas de resolução ideal dos túneis. A caverna descoberta semana passada somente teve a entrada principal fechada com metralhar e cimento. O interior da caverna, conhecido como “panela”, que é local usado pelos apenados para reuniões e escavações, permanece aberto.

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