Carolina
Gonçalves – Repórter da Agência Brasil
O
presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi notificado na
manhã de hoje (16), pelo Supremo Tribunal Federal, sobre o pedido de
afastamento dele do mandato, feito em dezembro do ano passado pelo
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, à Suprema Corte.
A
informação foi confirmada por assessores da presidência da Casa, no entanto, à
Agência Brasil, o advogado de Cunha, Antônio Fernando, negou ter conhecimento
sobre a notificação e mantém em segredo qualquer estratégia de defesa.
A
partir deste aviso, começa a contar o prazo de dez dias para que a defesa do
peemedebista apresente seus argumentos.
Janot
acusa Cunha de utilizar o cargo de presidente da Câmara para intimidar
parlamentares e cometer crimes. O presidente da Câmara responde a três
inquéritos oriundos da Operação Lava Jato, que tramitam no Supremo.
No
pedido apresentado ao STF, em dezembro, Janot argumenta que as suspeitas sobre
Cunha, alvo de buscas e apreensões em uma das fases da operação policial, são
reforçadas nas delações premiadas de réus da Lava Jato e pelas apreensões
feitas no dia 15 de dezembro, pela Polícia Federal, na residência oficial da
Câmara e na casa do parlamentar no Rio de Janeiro.
Eduardo
Cunha chegou hoje à Câmara por volta das 9h, sem falar com a imprensa. Ele nega
todas as acusações e tem evitado falar sobre processos que tramitam contra ele
no STF, como o que investiga a existência de contas secretas mantidas pelo
deputado na Suíça para receber dinheiro de origem ilícita.
Conselho
de Ética
Cunha
também é alvo de processo no Conselho de Ética da Casa, que será retomado no
início da tarde de hoje (16). Mudanças na composição de nomes que integram o
colegiado aumentaram ainda mais a expectativa em torno da primeira reunião do
ano do conselho, que volta à fase inicial de discussões em torno do parecer do
deputado Marcos Rogério (PDT-RO), relator do caso.
O
líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO), aliado de Cunha, deve decidir nas
próximas horas o nome que vai substituir Arnaldo Faria de Sá (SP) no conselho,
que renunciou à vaga, a pedido do líder do partido. Arantes participa na manhã
de hoje da reunião de líderes da base aliada da Câmara com a presidenta Dilma
Rousseff.
Em
princípio, Nilton Capixaba (RO) ocuparia a vaga e, diferentemente de Faria de
Sá, é contrário à cassação do mandato de Cunha. O ingresso de Capixaba na
comissão engrossaria o grupo dos nove deputados que votaram contra a
continuidade do processo. Hoje, no entanto, Capixaba anunciou que não vai
aceitar o convite.
O
parecer que propõe a continuidade das investigações contra Cunha foi aprovado
por 11 votos no final do ano passado, mas uma decisão do vice-presidente da
Câmara, deputado Waldir Maranhão (PP-MA), anulou a votação. Maranhão acatou um
recurso do deputado Carlos Marun (PMDB-MS) que questionava a negativa a um
pedido de vista do relatório.
José
Carlos Araújo (PSD-BA), presidente do conselho, apresentou questão de ordem no
plenário da Casa contra a decisão de Maranhão, mas ainda não tem previsão de
resposta. Há também um outro recurso, apresentado à Comissão de Constituição e
Justiça (CCJ) por aliados de Cunha, que pede que o processo retorne à estaca
zero. Além da reunião de hoje, outra sessão foi marcada para amanhã (17) para
continuar as discussões em torno da representação.
Cunha
Ao
deixar a Câmara horas antes da sessão do conselho, Cunha rechaçou as
declarações de que a mudança do PTB fosse uma manobra a seu favor. “Tudo o que
acontece lá vira manobra. Estou é preocupado com a manobra que está sendo feita
na eleição da liderança do PMDB”, disse. Deputados da legenda vão escolher
amanhã (17) o líder. A disputa é entre o atual ocupante do cargo, Leonardo
Picciani (RJ), alinhado com o Planalto, e Hugo Motta (PB), que tem o apoio
declarado de Cunha.
Insatisfeitos
com a atual condução dos trabalhos na Câmara, alguns peemedebistas acusam
Picciani de conduzir decisões de acordo com os interesses do governo sem que a
bancada seja ouvida. A exoneração de parlamentares que ocupam cargos no
Executivo, para retomarem o mandato na Câmara, é considerada por esta ala como
uma estratégia “artificial” para manter o fluminense na função. “O PMDB está
trazendo titulares, mas não para saírem os suplentes do partido, mas para
nomear deputados provisoriamente, de outros partidos para crescer a bancada”,
disse Cunha. Picciani participa da reunião de líderes com a presidenta Dilma e
ainda não se manifestou sobre as declarações de Cunha.