Forças Armadas reforçam segurança no Complexo da MaréTânia Rêgo/Agência Brasil |
Observatório de Favelas critica o uso de tanques do Exército no patrulhamento cotidiano da MaréTânia Rêgo/Agência Brasil |
Sob o comando da PM, o Complexo da Maré terá quatro UPPsTânia Rêgo/Agência Brasil |
Flávia
Villela - Repórter da Agência Brasil
O
Exército passará hoje (30) o comando da Força de Pacificação do Complexo da
Maré, zona norte do Rio, à Polícia Militar (PM) do estado. Os militares atuam
na comunidade há um ano e três meses, período em que foram investidos R$ 560
milhões. Na época, o governo do Rio solicitou ao governo federal apoio militar
para conter facções criminosas e contribuir para a diminuição da violência e do
poder do tráfico de drogas na região, onde vivem mais de 140 mil pessoas.
Entidades
de direitos humanos e moradores, no entanto, afirmam que a ocupação foi um
fracasso. Para o diretor da organização da sociedade civil de interesse público
(Oscip) Observatório de Favelas Jaílson de Souza e Silva as Forças Armadas saem
deixando o território como encontraram.
“Foi
um investimento imenso e não teve nenhuma função. A venda ostensiva de drogas
continua, o uso de armas nas partes internas das comunidades, guerras entre
duas facções continuam sendo travadas”, afirmou Jailson. Acrescentou que a
realidade na Maré não foi alterada com a presença dos militares. A seu ver é
necessário mudar a lógica de intervenções para o controle do território sem a
participação dos moradores. Jailson trabalha na Maré com a implementação de
políticas públicas e inclusão social há mais de 15 anos.
O
uso de arames, sacos de areia e tanques nas comunidades foi criticado pelo diretor da oscip. “Um
tanque para patrulhar o cotidiano da favela é pouco inteligente e essa lógica
de intimidação gerou muita tensão e conflitos”, ressaltou Jaílson.
Desde
que as Forças Armadas assumiram o comando da Força de Pacificação no local 24
pessoas morreram na área ocupada, vítimas de confrontos armados desde abril do
ano passado. Os tiroteios e o fechamento de escolas devido à violência também
continuaram.
Um
militar morreu e 27 ficaram feridos em ações operacionais. Moradores
denunciaram abusos cometidos por integrantes da Força de Pacificação, mas o
Exército negou ter cometido qualquer violação. Na semana passada um morador
morreu com um tiro no pescoço. O autor do disparo não foi identificado.
As
Forças Armadas informaram que o uso ostensivo de armas diminuiu e o comércio
ilegal de entorpecentes teve forte redução. De acordo com a assessoria do
Comando Militar do Leste a taxa anual de homicídios na região era aproximadamente
quatro vezes maior, antes da ocupação. Os dados são do Instituto de Segurança
Pública (ISP), mostrando que a taxa caiu de 21 mortes por 100 mil habitantes ao
ano para 5,33 mortes no mesmo período. As tropas federais fizeram 674 prisões,
255 apreensões de menores e mais de mil apreensões de drogas, armas, munições,
veículos, motos e materiais diversos.
Ainda
segundo a assessoria, projetos sociais e de limpeza como esgotamento sanitário
e regularização do recolhimento de lixo só foram possíveis com a presença da
Força de Pacificação.
Os
militares atuaram em 15 comunidades do Complexo. O convênio foi estendido duas
vezes. A substituição gradativa das Forças federais pela Polícia Militar
começou há alguns meses. Serão criadas quatro bases da Unidade de Polícia
Pacificadora (UPP) da Maré.
As
primeiras comunidades a serem entregues à PM do Rio foram Roquete Pinto, Praia
de Ramos, Parque União, Rubens Vaz e Nova Holanda. O diretor do Observatório de
Favelas informou que até o momento ninguém da Secretaria de Segurança Pública
do Rio ou da PM procurou os atores locais para discutir a implantação de UPPs.
“Fazemos parte dos conselhos estadual e nacional de Segurança Pública, o tema é
muito importante para os moradores das favelas, mas até agora não tivemos nenhum
diálogo, houve um processo de distanciamento muito grande entre as autoridades
e as entidades que trabalham com segurança pública nas favelas”.
A Agência Brasil entrou em contato com a
Secretaria de Segurança Pública que não se pronunciou até a publicação da
matéria sobre as críticas feitas pelo representante do Observatório de Favelas.
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