Uma tragédia anunciada: mal começou o inverno deste ano, a população de Ipanguaçu, a 215 quilômetros de Natal, já está em polvorosa com a possibilidade das cheias do rio Pataxó. O município passou quatro inundações nos últimos sete anos: em 2004, 2008 e 2009. As chuvas que vêm na região do Vale do Açu já preocupam a população local, principalmente no município de Ipanguaçu, onde 60 famílias já estão desabrigadas e, atualmente, estão alojadas em três abrigos públicos, em casas de parentes, amigos ou cedidas.
Segundo informações da Secretaria de Ação Social do município, 13 comunidade já estão ilhadas: Pau de Jucá, Lagoa de Pedra, Itu, Picada, Porto, Cuó, Luzeiro, São Miguel, Barra, Salinas, Deus Nos Guie, Santa Quitéria e Passagem. Pelo menos 2.200 pessoas já estão afetadas pelas inundações das águas pluviais vinda do rio Pataxó.
Na zona urbana, três bairros já estão tomados pelas águas - Maria Romana, Ubarana e Manoel Bonifácio. Segundo o prefeito Leonardo Oliveira, a situação pode se tornar ainda pior, porque ontem à noite a lâmina de água na sangria do açude Pataxó, a 25 quilômetros da cidade, já tinha 45 centimetros de espessura. “Nós estamos em sinal de alerta”.
A prefeitura contratou duas retroescavadeiras para fazer a limpeza do leito do rio Pataxó, onde existem matas nativas, que contribuem para impedir o fluxo das águas. “A gente conseguiu uma autorização do Idema para entrar fazenda, que é uma empresa privada e a gente não podia entrar”, disse o prefeito.
População teima em não sair de casa
No bairro Ubarana, em Ipanguaçu, algumas famílias ainda insistem em permanecer no local. Ontem, o transporte de pessoas já era feito por canoa para aquelas pessoas que resistiam em ficar nas suas casas. A dona de casa Katiane Fonseca no bairro e disse que vai permanecer no local enquanto aguas não invadirem toda a rua: “Hoje de manhã, a água não tinha chegado no meu quintal, mas agora de noite sim”, disse ela, que está se preparando “para atrepar os móveis” caso aumente o nível das águas.
O agropecuarista Ivan Fonseca estava apreensivo quanto ao aumento do nível de sangria do açude Pataxó, ele disse que tem um amigo naquele distrito, que fica informando constantemente sobre o volume de água tomado pelo reservatório, pois teme que uma cheia agora dizime toda a plantação de banana (oito hectares) e de manga (cinco hectares), cultivadas no Sítio Sacramentinho.
Assessora técnica da Comissão de Defesa Civil, Gloria Bezerra de Medeiros, informou que uma equipe do Corpo de Bombeiros, de Mossoró, passou o dia acompanhando a situação de Ipanguaçu ao lado do prefeito Leonardo Oliveira. Segundo ela, eles “fizeram um relatório para ser encaminhado à Coordenadoria Estadual de Defesa Civil”.
Ipanguaçu é o primeiro do município do Rio Grande do Norte a decretar situação de emergência, caracterizada “pelas enxurradas ou inundações bruscas” previstas pela Defesa Civil Nacional. Desde o sábado, dia 14, que Ipanguaçu vem sofrendo com inundações das áreas ribeirinhas, quando o açude Pataxó despejou uma enxurrada com uma conta de 27 centímetros. O decreto tem validade de 90 dias.
Além do prejuízo social, com a perda de casas, bens e famílias desabrigadas, a economia do município é bastante afetadas pelas cheias dos rios Pataxó e Piranhas-Açu. Os pequenos agricultores fizeram um protesto na manhã quinta-feira, dia 28, com a interdição da RN-118 nas duas entradas e saida da cidade, que dão acesso à BR-304 pelo sul e Alto do Rodrigues, Pendências e Macau, pelo norte. Pelo menos 600 agricultores familiares e populares participaram da manifestação pacífica pedindo a atenção dos governos estadual e federal cobrando o projeto de dessassoreamento do rio Pataxó, que se encontra “engavetado” no Ministério da Integração Nacional, que foi pré-elaborado já no ano passado.
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