TEXTO DO
PROFESSOR VALDÉCIO FERNANDES ROCHA
Ao nascer
no meio do mato, como é costumeiro de quem nasce e se cria no sítio, o comum é
a convivência com as cantigas folclóricas e os folguedos populares como: as
deixadas de santo, as novenas dos santos de devoção, os chouriços nas tardes de
domingo após a matança de um porco cevado, as debulhas de feijão no período de
colheitas e os forrós nas latadas de chão batido.
Tudo isto
junto nos dá a oportunidade de crescer feliz e querer que esta felicidade seja
irradiada para outras pessoas...
Eu cresci
participando desse tipo de atividades e ouvi, muitas vezes o toque da sanfona
de Poroca de Sinhô de Tito, presenciei as quadrilhas de Minervino Matias
gritadas por Alberto Gomes ou Chico de Heleno, olhando as argolinhas
coordenadas por Geodete e Narciso, vendo os prados de cavalo no sítio Clarão
onde nasci, assistindo aos jogos na rua do Campo, participar do circo
improvisado lá em seu Canuto Dantas e ainda ter a oportunidade de ver Elizeu
Ventania em cantoria de meio de feira em Janduís.
O tempo
passa e a gente vai crescendo e, em aprendendo, vai sentindo a necessidade de
partilhar aquilo que aprende...
Eis que em
2005, com a inclusão da disciplina Cultura do RN no currículo escolar, surge a
oportunidade de vivenciar a experiência de levar adiante aquilo que aprendi ao
longo da vida, principalmente com a experiência do Escambo Teatral de Rua.
Juntamente
com a professora Ana Paula Braga iniciamos um trabalho com os alunos da Escola
Municipal Prof Aluízio Gurgel. Recorremos a Adriano Ferreira que na época havia
participado de uma capacitação de dança para as apresentações do Encontro
Estadual sobre Folclore do Rn. Ele, então se prontificou a ensinar coco de
roda.
Era maio de
2005.
Surge aí o
embrião do grupo. Juntam-se Aldetânia, Jamyllier, Mayara, Adriana Gomes, Taysa,
Alessandra, Neiliano, Willy, Rênio, Hands, Adriano e Artur-Bodão. Está
pronta a coreografia de coco de roda com a musica Sem ganzá não é coco de Chico
César.
No dia 09
de junho de 2005, a primeira apresentação, e aí oficializa-se a criação da
Companhia de Artes Brincantes do Sertão. Eita nós....
JERNs em
Umarizal, desfile pela principal rua da cidade até o Ginásio de Esportes. E nós
lá. Figurino simples e barato. Os meninos com chapéu de palha, camisa e calça
de algodãozinho com detalhes em fustão vermelho; as meninas com saias rodadas
de algodãozinho e detalhes do mesmo fustão da camisa dos meninos, com blusas de
mangas de saiote. Tudo muito simples, porém luxuoso. Chega-se ao Ginásio de
esportes... Os grupos das outras cidades todos pareciam mais experientes do que
nós, mas depois da apresentação percebemos que artistas são sempre artistas não
há um melhor ou pior do que o outro, cada um tem sua arte.
Ai foi só
alegria!!! E tome cachorro quente com suco e depois...
Ah!!! a
alegria da volta pra casa.
Daí em
diante, muita coisa boa aconteceu. E o grupo que era pequeno vai aumentando.
Chegam Sadrak, Kesia, Vinícius, Ana Luzia, Luanda, Peteca, Nilson, Dyssinho,
Myleide, Evandro, Renata, Leigina e outros mais...
Vêm os
eventos fora: Canto Potiguar em Mossoró, São José Virou São João em São José
dos Cacetes na Paraíba, Projeto Nas Pegadas de Lampião, O forró itinerante de
Janduís, eita bolo de milho e grude lá no Verruma na zona rural de Janduís.
Gincana Cultural em Patú, Aldeia SESC em Caicó. Feira do Agronegócio, Escambos,
escambos, escambos..
Coisa ruim
também, mas nada que tirasse o orgulho de ser brincante.
Viajamos
pra outras cidades e chegamos a outros estados. Participamos de muitos eventos
que certamente nos fizeram refletir e crescer razão porque nos tornamos um dos
grupos articuladores do Movimento Escambo.
Muita gente
já passou pelo grupo e por razões diversas tiveram que se afastar: Neyliano,
Mayara, Adriana Gomes, Maria Rita, Sadam, Jardel, Geisa, Dudu, Arthur,
Ranilson, Eduardo, Dandara, Carlinha, Vanessa, entre outros...
É muito pra
quem tem tão pouco ou é pouco pra quem tem muito? A ordem dos fatores não
altera o nosso produto que é a arte que fazemos procurando, o tempo todo,
trazer um pouco para cada um de nós e para os outros entretenimento, mas
principalmente crescimento para cada integrante, na busca da construção de
cidadãos livres e dignos de sua cidadania. Não é fácil, mas é possível.
Neste dia
de aniversário da Cia. quero mais agradecer do que parabenizar a cada um e cada
uma que tem embarcado nessa viagem e segurado a onda dessa Trupe que me dá
cuidado, mas me dá muitas alegrias.
Aos que
estão do início até hoje, aos que chegaram depois...
Aos que
estão atuando diretamente e a todos aqueles que o trabalho, a faculdade ou a
vida cigana tem feito com que se afastem um pouco de nós mas que continuam com
a alegria de ser Brincantes do sertão.
Aos que
estão chegando, paciência que aprendizagem é um processo construtivo de
co-participação.
Para os que
já se foram seja pra outro plano, seja para outros grupos ou outras cidades,
outros projetos, nosso obrigado.
Aos que
estão hoje, assumam essa causa que é de vocês.
O sucesso
do Brincantes do Sertão depende do empenho de cada um e da união de todos para
que fazer arte se torne uma brincadeira séria e saudável.
Esta parte
da história da minha vida está sendo construída por vocês. Podem acreditar que
Brincantes do Sertão faz de mim uma criatura mais feliz e me traz sempre alma
nova.
Quando
vocês dançam o meu coração fica como se fosse uma Escola de Samba com todas as
alegorias e apresentando todos os ritmos sem sair do compasso.
Muito
obrigado!!!!
Parabéns
pra cada um individualmente e força para o grupo na totalidade.
Texto
escrito em 2011
FONTE: ENOCK DOUGLAS
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