sábado, 9 de junho de 2012

BRINCANTES DO SERTÃO 7 ANOS


TEXTO DO PROFESSOR VALDÉCIO FERNANDES ROCHA



Ao nascer no meio do mato, como é costumeiro de quem nasce e se cria no sítio, o comum é a convivência com as cantigas folclóricas e os folguedos populares como: as deixadas de santo, as novenas dos santos de devoção, os chouriços nas tardes de domingo após a matança de um porco cevado, as debulhas de feijão no período de colheitas e os forrós nas latadas de chão batido.
Tudo isto junto nos dá a oportunidade de crescer feliz e querer que esta felicidade seja irradiada para outras pessoas...
Eu cresci participando desse tipo de atividades e ouvi, muitas vezes o toque da sanfona de Poroca de Sinhô de Tito, presenciei as quadrilhas de Minervino Matias gritadas por Alberto Gomes ou Chico de Heleno, olhando as argolinhas coordenadas por Geodete e Narciso, vendo os prados de cavalo no sítio Clarão onde nasci, assistindo aos jogos na rua do Campo, participar do circo improvisado lá em seu Canuto Dantas e ainda ter a oportunidade de ver Elizeu Ventania em cantoria de meio de feira em Janduís.
O tempo passa e a gente vai crescendo e, em aprendendo, vai sentindo a necessidade de partilhar aquilo que aprende...
Eis que em 2005, com a inclusão da disciplina Cultura do RN no currículo escolar, surge a oportunidade de vivenciar a experiência de levar adiante aquilo que aprendi ao longo da vida, principalmente com a experiência do Escambo Teatral de Rua.
Juntamente com a professora Ana Paula Braga iniciamos um trabalho com os alunos da Escola Municipal Prof Aluízio Gurgel. Recorremos a Adriano Ferreira que na época havia participado de uma capacitação de dança para as apresentações do Encontro Estadual sobre Folclore do Rn. Ele, então se prontificou a ensinar coco de roda.
Era maio de 2005.
Surge aí o embrião do grupo. Juntam-se Aldetânia, Jamyllier, Mayara, Adriana Gomes, Taysa,   Alessandra,  Neiliano, Willy, Rênio, Hands, Adriano e Artur-Bodão. Está pronta a coreografia de coco de roda com a musica Sem ganzá não é coco de Chico César.
No dia 09 de junho de 2005, a primeira apresentação, e aí oficializa-se a criação da Companhia de Artes Brincantes do Sertão. Eita nós....
JERNs em Umarizal, desfile pela principal rua da cidade até o Ginásio de Esportes. E nós lá. Figurino simples e barato. Os meninos com chapéu de palha, camisa e calça de algodãozinho com detalhes em fustão vermelho; as meninas com saias rodadas de algodãozinho e detalhes do mesmo fustão da camisa dos meninos, com blusas de mangas de saiote. Tudo muito simples, porém luxuoso. Chega-se ao Ginásio de esportes... Os grupos das outras cidades todos pareciam mais experientes do que nós, mas depois da apresentação percebemos que artistas são sempre artistas não há um melhor ou pior do que o outro,  cada um tem sua arte.
Ai foi só alegria!!! E tome cachorro quente com suco e depois...

Ah!!! a alegria da volta pra casa.
Daí em diante, muita coisa boa aconteceu. E o grupo que era pequeno vai aumentando. Chegam Sadrak, Kesia, Vinícius, Ana Luzia, Luanda, Peteca, Nilson, Dyssinho, Myleide, Evandro, Renata, Leigina e outros mais...
Vêm os eventos fora: Canto Potiguar em Mossoró, São José Virou São João em São José dos Cacetes na Paraíba, Projeto Nas Pegadas de Lampião, O forró itinerante de Janduís, eita bolo de milho e grude lá no Verruma na zona rural de Janduís. Gincana Cultural em Patú, Aldeia SESC em Caicó. Feira do Agronegócio, Escambos, escambos, escambos..
Coisa ruim também, mas nada que tirasse o orgulho de ser brincante.
Viajamos pra outras cidades e chegamos a outros estados. Participamos de muitos eventos que certamente nos fizeram refletir e crescer razão porque nos tornamos um dos grupos articuladores do Movimento Escambo.
Muita gente já passou pelo grupo e por razões diversas tiveram que se afastar: Neyliano, Mayara, Adriana Gomes, Maria Rita, Sadam, Jardel, Geisa, Dudu, Arthur, Ranilson, Eduardo, Dandara, Carlinha, Vanessa, entre outros...
É muito pra quem tem tão pouco ou é pouco pra quem tem muito? A ordem dos fatores não altera o nosso produto que é a arte que fazemos procurando, o tempo todo, trazer um pouco para cada um de nós e para os outros entretenimento, mas principalmente crescimento para cada integrante, na busca da construção de cidadãos livres e dignos de sua cidadania. Não é fácil, mas é possível.
Neste dia de aniversário da Cia. quero mais agradecer do que parabenizar a cada um e cada uma que tem embarcado nessa viagem e segurado a onda dessa Trupe que me dá cuidado, mas me dá muitas alegrias.
Aos que estão do início até hoje, aos que chegaram depois...
Aos que estão atuando diretamente e a todos aqueles que o trabalho, a faculdade ou a vida cigana tem feito com que se afastem um pouco de nós mas que continuam com a alegria de ser Brincantes do sertão.
Aos que estão chegando, paciência que aprendizagem é um processo construtivo de co-participação.
Para os que já se foram seja pra outro plano, seja para outros grupos ou outras cidades, outros projetos, nosso obrigado.
Aos que estão hoje, assumam essa causa que é de vocês.
O sucesso do Brincantes do Sertão depende do empenho de cada um e da união de todos para que fazer arte se torne uma brincadeira séria e saudável.
Esta parte da história da minha vida está sendo construída por vocês. Podem acreditar que Brincantes do Sertão faz de mim uma criatura mais feliz e me traz sempre alma nova.
Quando vocês dançam o meu coração fica como se fosse uma Escola de Samba com todas as alegorias e apresentando todos os ritmos sem sair do compasso.
Muito obrigado!!!!
Parabéns pra cada um individualmente e força para o grupo na totalidade.

Texto escrito em 2011

FONTE: ENOCK DOUGLAS

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