Cezar Alves/Da Redação
O que faria um ser humano confessar um crime que não cometeu? Qual o limite de resistência do corpo e da mente. O vidraceiro Antônio Kivyny Dantas da Silva, de 19 anos, conheceu e ultrapassou este limite no dia 25 de fevereiro de 2012, dentro da Companhia de Polícia.
O que faria um ser humano confessar um crime que não cometeu? Qual o limite de resistência do corpo e da mente. O vidraceiro Antônio Kivyny Dantas da Silva, de 19 anos, conheceu e ultrapassou este limite no dia 25 de fevereiro de 2012, dentro da Companhia de Polícia.
Kivyny foi solto por
ter sido torturado para confessar assalto
Kivyny relata que resistiu algemado com as mãos para trás aos socos, pontapés, uma borrifada de álcool nos olhos, sessão de sufocamento com toca molhada nas narinas, mas não resistiu à violência do rottweiller. A mordida quase arrancou parte da coxa.
Como aconteceu, segundo Kivyny
No dia 25 de fevereiro, Kivyny conta que pegou emprestado R$ 10,00 de um amigo (nome preservado) que vende DVD pirata, pediu emprestado uma moto Pop preta de um amigo (nome preservado) e foi junto com Francisco Daywson de Oliveira, o Fofão, de 26 anos, tomar uma latinha de cachaça no balneário da Barragem de Santa Cruz.
Conta que quando ia voltando para casa junto com Fofão foi perseguido por dois homens (até o mento não sabia que eram PMs) em outra moto, que teria efetuado quatro disparos na direção deles na localidade de Bico torto. “Eu parei e eles (já identificados como os PMs Túlio e Ivanildo) já foram logo espancando. Batendo, perguntando cadê a arma e o dinheiro do assalto. Não sabia de arma, de dinheiro e nem de assalto”, conta Kivyny.
Em seguida, Kivyny conta que os PMs Túlio e Ivanildo, que estavam sem farda e numa moto particular, chamaram a viatura da PM (Blazer), que veio com outros dois PMs, que segundo ele, tratava-se da pessoa de Xavier e o motorista do veículo que não lembra o nome. “Daí levaram a gente pra o ‘conhecimento’ (reconhecimento) em Felipe Guerra”, conta.
Em Felipe Guerra, Kivyny conta que o dono do posto de combustível (nome preservado) assaltado não os reconheceu. O empresário contou que os assaltantes estavam com rosto, braços e pernas cobertas. Achou a moto Pop parecida com a que foi usada no assalto. Em seguida Kivyny conta que os PMs levaram eles para Apodi.
No caminho, Kivyny conta que os PMs mandaram ele abri os olhos e jogaram álcool. Daí levaram os dois para a Companhia de Polícia Militar de Apodi, onde, segundo ele, iniciaram uma sessão de tortura com socos e pontapés. “Primeiro foi o fofão. Eles estouraram o ouvido dele com uma tapa de mão aberta e depois botaram a mascara nele e jogaram água” conta.
Segundo Kivyny, Fofão agüentou. Não confessou nada. Em seguida foi a vez dele passar pela sessão de tortura. Fiquei sufocado com a máscara no rosto e eles jogando água em cima. “Mas eu não confessei nada. Não tinha feito nada. Aí Túlio me empurrou, cair algemado com as mãos para trás e Xavier soltou o cachorro que me mordeu”, relata.
Veja o Video AQUI.
Kivyny disse que para os PMs tirarem o rottweiller de cima dele, confessou o crime. “Eu confessava até outras coisas que não fiz com bicho daquele me mordendo”, diz. Em seguida, Kivyny conta que foi levado de volta ao Bico Torto, onde os PMs botaram uma arma e cerca de R$ 200,00 em dinheiro para dizer que era a arma usada no assalto e o dinheiro roubado.
Em seguida, os dois foram levados para a Delegacia de Apodi, onde foram autuados (contaram que o delegado e o comandante não estavam no município). “Eu não falei nada. Foi só eles que falaram e tive que assinar. Depois fui ameaçado de morto por Túlio. Ele botou a pistola na minha boca e disse que se eu contasse para a juíza ele me matava”,
4 meses e 3 dias depois, precisamente dia 28 de junho, a juíza Kátia Cristina Guedes Dias, de Apodi, e o promotor de Justiça Sílvio Ricardo Gonçálves de Andrade Brito, ouviram a história de Kivyny e Fofão. Também ouviram os policiais Túlio, Xavier e Ivanildo, além de outras testemunhas.
A pedido do promotor, a juíza anulou as provas e determinou a imediata soltura dos suspeitos (Fofão e Kivyny) e enviou cópias do processo para que a suspeita de tortura fosse investigado com acompanhamento do Ministério Público Estadual.
Fofão e Kivyny disseram que agora estão com medo de serem mortos pelos PMs. Eles foram orientados por advogados para procurar a mídia e denunciar que foram ameaçados. Kivyny foi embora de Apodi.
O que disse os PMs a Justiça
Os policiais militares Túlio Marinho Gomes (soldado), Ivanildo de Lima Alves (sargento) e Francisco Xavier de Oliveira (sargento) relataram uma ocorrência normal, onde eles receberam o pedido de ajuda da vítima de assalto e iniciaram as buscas, tendo localizado os suspeitos comemorando o assalto no balneário da Barragem de Santa Cruz.
Relatam que ao abordarem na BR 405, perto do Bico Torto, os dois abandonaram a moto e tentaram correr para dentro do mato, sendo alcançados e presos. Disseram que apreenderam resolver e dinheiro com os dois suspeitos e as vítimas do assalto o reconheceram. Negaram todas as torturas e também ameaças de morte.
O que diz o superior imediato dos PMs
O comandante da 2ª Companhia de Policia Militar de Apodi, capitão PM Inácio Brilhante Araujo Filho, disse ao Defato.com que ficou surpreso com a notícia de que PMs da companhia de Apodi estavam usando rotweiller para fazer suspeitos confessarem assaltos .
O comandante relata que os policiais citados são responsáveis e empenhados no combate ao crime. Ele disse que sempre existiram cães para ajudar na guarda da companhia e que confia na palavra dos subordinados. Mesmo assim, para que não restem dúvidas, Brilhante disse que tomou a oitiva dos PMs e já comunicou ao comandante do 2º BPM, de Mossoró.
Providências adotadas pelo Ministério Público
Em contato com o Defato.com, o promotor de Justiça Silvio Brito disse que além dos depoimentos de Kivyny e Fofão relatando as torturas, também tomou os depoimentos de testemunhas, e levou Kivyny para exames de corpo delito, considerando que as marcas enormes das mordidas do rottweiller estão bem evidentes. Ele disse que como já tem todas as provas, espera concluir o trabalho e oferecer a denúncia num prazo máximo de 15 dias. Silvio Brito disse que lamenta que ainda aconteça este tipo de ocorrência.
Médico confirma agressão.
FONTE:
DEFATO.COM
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