Do Estadão Conteúdo
Empresários e agentes estrangeiros
consideravam Marco Polo Del Nero o "homem forte" da CBF, mesmo quando
era o vice-presidente da entidade sob o mandato de José Maria Marin. E-mails
entre empresas e agentes obtidos com exclusividade revelam que o atual chefe da
CBF era a pessoa incontornável em todas as negociações na entidade desde que
Ricardo Teixeira deixou a CBF em março de 2012.
Mesmo despachando da Federação Paulista de
Futebol (FPF), ele recebeu empresários em São Paulo para tratar de contratos da
CBF. Del Nero nega qualquer envolvimento no escândalo de corrupção investigado
nos Estados Unidos e na Suíça. Nesta segunda-feira, Marin deve apresentar ao
Ministério Público suíço um pedido para aguardar uma eventual extradição em
liberdade condicional.
Mas o esforço de Del Nero em se afastar da
gestão Marin se contradiz com o que atores do mercado, a Fifa e empresas
ligadas ao futebol o tratavam. Se Teixeira jamais viajava com seu
vice-presidente e nunca entrava em uma negociação acompanhado por outro
cartola, Del Nero passou a fazer parte da presidência de Marin.
No dia 21 de março de 2012, dias depois da
renúncia de Teixeira e da posse de Marin, um dos altos funcionários do Grupo
Figer enviaria um e-mail a Philipp Grothe, chefe da Kentaro, empresa que tinha
dos direitos dos amistosos do Brasil. Na mensagem, ele descrevia a mudança de
governo na CBF. "Tenho um encontro com Marco Polo Del Nero. VP
(vice-presidente) da CBF, o homem forte agora", escreveu o representante.
Horas depois, Grothe escreveria de volta,
pedindo que os empresários brasileiros "tenham cuidado com qualquer tipo
de comunicação com qualquer pessoa". O empresário foi interrogado na
última sexta-feira pelo Ministério Público da Suíça, que suspeita de que
amistosos da CBF foram usados para pagar propinas.
Um mês depois, novas reuniões entre agentes e
a CBF mostravam uma vez mais que Del Nero fazia parte de todos os encontros
para examinar novos contratos. No dia 25 de abril de 2012, no hotel Claridge de
Londres, Marin e Del Nero se reuniram com a Kentaro e com André e Marcel Figer,
do Grupo Figer. A meta era negociar um novo acordo.
No dia 3 de maio de 2012, uma nova reunião
entre os Figers e Del Nero. Desta vez, o encontro ocorreu na sede da Federação
Paulista de Futebol. O objetivo, porém, era tratar dos contratos para os amistosos
do Brasil. Del Nero teria concordado em negociar um acordo com os Figers,
usando uma empresa do grupo fora do Brasil, a Plausus.
Quando o acordo com a Kentaro não funcionou,
Grothe escreveu aos Figers para protestar diante da decisão da CBF de assinar
com outra empresa, a Pitch. Uma vez mais, fica claro que Del Nero fazia parte
de todas as conversas. "Vinte quatro horas antes, Marin e Del Nero nem
tinham ouvido falar da Pitch", se queixou. Ao escrever de volta, os
representantes da Figer indicavam que precisavam encontrar uma forma de
"forçar Marin e Del Nero a cancelar o acordo".
Mesmo perdendo o contrato, a Kentaro
reforçaria em mais um e-mail de setembro de 2012 a intenção de se aproximar da
CBF. Uma vez mais, era o nome de Del Nero o usado como referência. Falando
sobre um novo contrato, a empresa via a negociação "como uma boa
oportunidade de fortalecer as relações com Marco Polo e Marin". A mensagem
era de 17 de setembro, para André e Marcel Figer.
Na Fifa, Del Nero também assumiu parte das
funções de Teixeira. Logo que entrou para o Comitê Executivo, foi designado
para presidir o Comitê de Beach Soccer (futebol de areia), um setor dos
negócios atrelados ao ex-chefe da CBF.
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