Flavia
Villela – Repórter da Agência Brasil
O Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou hoje (18), pela primeira
vez, uma pesquisa sobre as estratégias que as famílias brasileiras em situação
de insegurança alimentar usaram para enfrentar o problema. Os dados estão no
suplemento de Segurança Alimentar da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad) 2013 e mostram que a maioria dos entrevistados comprou fiado
para enfrentar a falta de comida em casa no ano passado.
Cerca de
43% dos domicílios brasileiros pagou depois pelo alimento consumido para não
passar fome, enquanto 27,8% pediram alimentos emprestados a parentes, vizinhos
ou amigos. Aproximadamente 7,2% desse grupo disseram que deixou de comprar
supérfluos e 5% pediram dinheiro emprestado. A carne foi cortada da dieta de
3,5% desse público para que não faltasse comida na mesa. Os que receberam
alimentos da comunidade, vizinhos, parentes e amigos representavam 3,3%, e 2,8%
prestaram pequenos serviços a parentes e amigos em troca de alimentos. Os dados
revelam ainda que 7,1% tomaram outras atitudes.
Em uma
análise regional, a pesquisa mostra que comprar fiado foi a principal opção das
famílias em situação de risco no Nordeste (53,8%), no Norte (50,2%) e no
Centro-Oeste (37,3%). Pedir alimentos emprestados a parentes, vizinhos e/ou
amigos foi a principal estratégia usada por esse público no Sul (34,2%) e
Sudeste (33,5%).
Para o
IBGE, os domicílios com insegurança alimentar leve são aqueles em que foi
detectada alguma preocupação com a quantidade e qualidade dos alimentos
disponíveis. Naqueles com insegurança alimentar moderada, os moradores
conviveram com a restrição de alimento em termos quantitativos. Já nos
domicílios com insegurança alimentar grave, os membros da família passaram por
privação de alimentos, cujo grau mais extremo é a fome.
Quanto à
ocupação do público-alvo da pesquisa, os dados revelam que, em 2013, 54,7% dos
14,3 milhões de moradores em situação de insegurança alimentar moderada ou
grave, com 10 anos de idade ou mais, estavam ocupados. Entre os ocupados, 31,5%
estavam em atividades agrícolas.
Em relação
à posse de bens, 98,3% dos domicílios em segurança alimentar tinham geladeira,
enquanto nos lares com insegurança grave esse percentual era 85,8%. A pesquisa
identificou que, quanto mais intensa a situação de insegurança, menor a
proporção de domicílios com refrigeradores.
Na
comparação com a última edição do Suplemento de Segurança Alimentar, de 2009,
aumentou a proporção dos lares com eletrodomésticos como máquina de lavar,
computador e telefone – mesmo entre os domicílios em insegurança alimentar
grave. Cerca de 10% dos domicílios com pessoas em situação grave de insegurança
alimentar tinham microcomputador com acesso à internet.
Os dados da
pesquisa mostram que quanto mais intensa a situação de insegurança menor a
proporção de domicílios atendidos por serviços de saneamento básico: 34,4% dos
domicílios de pessoas em situação de insegurança alimentar grave eram atendidos
por rede de coleta de esgoto; 73,6%, por rede geral de abastecimento de água e
75,2%, por coleta de lixo.
Além disso,
78,9% dos domicílios com insegurança alimentar tinham rendimento per
capita até um salário mínimo (excluindo os sem rendimento) e 2,2%,
mais de dois salários mínimos. Por outro lado, 53,5% dos domicílios com
segurança alimentar têm rendimento per capita acima de um
salário mínimo e 23,9% mais de dois salários mínimos.
Conviviam
com insegurança grave 4,8% da população até 4 anos de idade e 4,9% da população
de 5 anos a 17 anos. Na população de 65 anos ou mais de idade, 2,4% convivem
com insegurança alimentar.
Os
domicílios cuja pessoa de referência era negra ou parda registraram
prevalências de insegurança alimentar maiores do que as dos domicílios com
pessoa de referência da cor branca. Entre os domicílios com pessoa de
referência preta ou parda, 29,8% estavam em situação de insegurança alimentar,
enquanto para os brancos a prevalência foi 14,4%. Dos 93,2 milhões de moradores
brancos, 17,2% conviviam com a insegurança alimentar. Para os 106,6 milhões de
moradores negros, este percentual subiu para 33,4%.
Os
indicadores apontam ainda que, dos 55,5 milhões de moradores com menos de 18
anos, 79,8% frequentavam escola ou creche. Entre os 6,2 milhões que viviam em
domicílios com insegurança alimentar moderada ou grave, esse percentual era
75,7%.
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