O suposto flagrante do delegado da Polícia Civil Odilon
Teodósio utilizando viatura descaracterizada para levar uma adolescente a um
motel de Natal foi armado. É o que garante o Ministério Público, em denúncia
encaminhada à Justiça. Segundo os promotores, há a comprovação de que o
delegado não esteve com a jovem no motel e que quatro pessoas teriam
participado da armação do falso flagrante, noticiado em 21 de janeiro de 2014.
Quatro pessoas, incluindo dois policiais civis, foram denunciados pela suposta
armação.
Segundo o MP, o delegado Odilon Teodósio (foto) foi vítima de armação |
Em 21 de janeiro do ano passado, uma reportagem veiculada em rede
nacional pelo SBT mostrava um suposto encontro amoroso de Odilon Teodósio com
uma jovem. Nas imagens, foi afirmado que o delegado jantou com a mulher e, em
seguida, foi a um motel na Praia do Meio utilizando uma viatura
descaracterizada da Polícia Civil. Segundo os promotores, o flagrante foi
montado.
Após depoimentos e
investigação, o Ministério Público concluiu que o delegado havia se encontrado
com a jovem, mas que o encontro em um restaurante da Via Costeira teria sido
para o levantamento de informações sobre traficantes de Natal. Com o cruzamento
de informações, o MP confirmou que o delegado não esteve no motel no dia em que
as imagens foram captadas.
Na reportagem, foi
informado que Odilon Teodósio, após o jantar, foi para o motel na Praia do
Meio. Nas imagens, somente a jovem aparece. É ela quem desce do veículo e baixa
o toldo que bloqueia o acesso ao quarto. Em nenhum momento há imagens do
delegado. Segundo o motel, no dia e horário em que o delegado teria ido ao
quarto, havia sido registrada a somente a entrada de uma motocicleta, com
ninguém mais utilizando o quarto durante a noite. O casal que esteve no
estabelecimento permaneceu no local das 18h41 às 20h31. Pelo extrato do cartão
de crédito do delegado, a conta no restaurante foi paga às 20h09 do mesmo dia.
Pela investigação,
ficou constatado que as imagens na área externa do quarto de motel foram
captadas em outro dia, apesar da adolescente usar a mesma roupa. O fato das imagens
não mostrarem o delegado e da própria garota baixar o toldo do motel, além da
proximidade do outro veículo, geraram a desconfiança.
"O veículo não
foi desligado até que a adolescente baixasse o toldo; 2. O condutor pisava o
tempo todo no freio, mesmo quando a adolescente baixava o toldo; 3. Foi a
adolescente quem abaixou o toldo; 4. Não se vê o DPC Odilon saindo do veículo
em nenhum momento, mesmo quando o toldo está sendo abaixado; 5. A forma mais
fácil da captar a imagem do DPC Odilon seria filmá-lo na saída do motel, mas
isto não aconteceu; 6. Um veículo acompanha a viatura e fica parado em frente à
garagem em que a viatura se encontrava estacionada, filmando a senhora (nome
preservado) – o que só podia ser feito a pouca distância, sem passar despercebido",
disse o MP na denúncia.
"A conclusão
óbvia é de que a filmagem da parte do motel não foi feita no dia do jantar,
reforçando a tese de que esse trecho teria se tratado de uma armação",
concluíram os promotores, levantando dados também sobre a localização exata da
jovem no dia em que ela supostamente estaria no motel com o delegado.
Entre a hora em que
ocorreu o pagamento da conta no restaurante, 20h09, e uma ligação que ela
recebe do agente de polícia, às 20h34, ela estava no no bairro do Potengi, e
não no motel. Em depoimento, inclusive, ela diz que teria passado 40 minutos no
motel, o que ficou comprovado ser mentira. "Se já seria impossível fazer
todas as atividades mencionadas acima em 25 minutos e 34 segundos, a resposta
impede qualquer tipo de explicação sobre a 'possível' ida ao motel", disse
o MP na denúncia.
Conluio
A jovem que se
encontrou com o delegado no restaurante e aparece nas imagens do motel prestou
depoimento e negou que conhecesse o agente de polícia suspeito de participar da
armação do falso flagrante. Porém, ao analisar as informações telefônicas de
ambos, o MP constatou que ocorreram 61 ligações entre os dois entre os dias 6
de novembro de 2013 e 30 de janeiro de 2014, sendo 56 ligações ocorrendo antes
do dia em que as imagens foram divulgadas.
Para reforçar a
tese de que o agente de polícia queria prejudicar Odilon Teodósio, o MP
argumentou que uma investigação comandada pelo delegado fez com que o agente de
polícia fosse afastado da função de chefe de investigação da Delegacia
Especializada em Capturas. A investigação em questão dava conta de que o agente
de polícia teria saído irregularmente com presos para que os detentos
efetuassem saques bancários.
A ligação entre a
jovem e o agente existiria desde que o policial teve relacionamento afetivo com
uma amiga da suspeita.
Além da jovem, o
agente também teria ligação com o cinegrafista que produziu as imagens. O
acerto entre os dois teria sido feito após 217 ligações entre os dois no
período entre 6 de novembro de 2013 e 30 de janeiro de 2014, com o
cinegrafista, na opinião do MP, sabendo da armação. Além disso, o cinegrafista
também teria mentido em depoimento.
Denunciados
Ao todo, quatro
pessoas foram denunciadas. O agente de polícia, o cinegrafista e a jovem vão
responder por crimes de falsidade ideológica, denunciação caluniosa e falso
testemunho, enquanto outro agente de polícia, que teria assinado ordens de
serviço permitindo investigação do delegado, vai responder por usurpação de
função publica.
Da Tribuna do Norte
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